sexta-feira, 1 de março de 2013

Células estaminais

estaminal
(latim stamen, -inis, fio + -al)
adj. 2 g.
1.  [Botânica] Relativo a estames.
2. [Biologia] Diz-se da célula indiferenciada que se pode dividir e originar células semelhantes indiferenciadas ou células diferenciadas.

Células estaminais são células que se podem dividir e diferenciar em células especializadas, como sendo células de ossos, nervos, músculos ou sangue. Não sendo exclusivas do corpo humano, neste podem encontrar-se em vários locais, como é o tão conhecido caso do cordão umbilical.
Atualmente, praticamente todos os casais grávidos são bombardeados com folhetos e panfletos de vários bancos privados de células estaminais do cordão umbilical. E a publicidade é feita de forma tão "agressiva", que na maioria dos casos só não optam por uma dessas ofertas por questões meramente financeiras. Mas vamos parar para pensar um bocadinho sobre este assunto.

O estudo sobre a aplicação das células estaminais ainda vai muito no início (apesar de já datar de finais dos anos 80), portanto convencer alguém de que é um bom investimento porque nunca se sabe em que pode vir a ser usado no futuro, não me parece um bom argumento. Outra realidade é a de que muitas das doenças que são ditas como potencialmente curáveis através desta terapêutica, são doenças genéticas e portanto se a pessoa desenvolveu essa doença o mais certo é as suas próprias células estaminais acabarem eventualmente por evoluir para esse mesmo estado de doença. Claro que há casos em que é possível usar as células estaminais para curar a própria pessoa. Já aconteceu e voltará a acontecer, é certo. Mas será que a probabilidade é assim tão elevada ao ponto de justificar o investimento? Os bancos privados e muitas outras pessoas dirão que sim. Trata-se de uma vida, da vida de um filho. Que pais não fariam de tudo para salvar um filho? Ditas as coisas nestes termos faz parecer que todos os pais que optam por não fazer a recolha em bancos privados são uns maus pais...

A dada altura durante a gravidez eu e o meu marido também nos confrontámos com este dilema. Fazemos ou não fazemos? À equação adicionamos outra variável: o banco público. Procurámos ficar mais esclarecidos e recolher informações e opiniões junto de várias pessoas, incluindo pessoas ligadas à saúde tais como médicos. Optámos pelo banco público.

Muitas pessoas provavelmente nunca sequer ouviram falar no banco público de células estaminais do cordão umbilical. À semelhança do banco existente de médula óssea, que é impossível haver alguém que não conheça, o banco público de células estaminais é isso mesmo, público. Isto significa que as células que lá se encontram guardadas não são propriedade única e exclusiva de quem as doou, mas sim de toda a gente. E o que é que isto pode implicar? Implica, por exemplo, que um dia o meu filho precise das "suas" células e elas já não se encontrem disponíveis porque foram usadas para tratar outra pessoa. Mas implica também que se um dia o meu filho precisar, existe um vasto leque de células que ele pode usar, e em muitos casos as células de outras pessoas serão mais eficazes que as próprias.

Se toda a gente, e repito toda a gente, pensasse não só no seu próprio bem mas no bem geral, e se todos doassem as células estaminais ao banco público, a quantidade de células armazenadas seria tão grande, que seria altamente improvável que uma pessoa doente não tivesse células a que recorrer.

Os dadores de sangue guardam o seu sangue para que possa ser usado só em si em caso de necessidade, ou doam-no no verdadeiro sentido da palavra para que possa ajudar outras pessoas? E os dadores de médula óssea?

Uma coisa que faz a grande diferença entre estes dois casos e o das células estaminais tem um só nome: bebé. Uma mulher grávida e o futuro pai, regra geral, imaginam o bebé que vai nascer como um bebé perfeitinho, saudável, querido, fofo, bonito. Desejam que seja um bebé feliz durante toda a sua vida e sabem desde muito cedo que farão qualquer coisa por ele. Portanto, haverá maneira mais eficaz de convencer alguém a recorrer aos bancos privados, do que dizer que com esse ato podem um dia salvar a vida de um filho?

Eu não quero com isto convencer ninguém de coisa alguma. Esta é só a minha opinião sobre o assunto. Quem decide fazer uso dos bancos privados está no seu pleno de direito, mas não sei se em todos os casos as pessoas estão devidamente informadas, quer seja pela qualidade / quantidade de amostra recolhida necessária para que um dia o seu uso seja válido, quer seja da existência de um banco público, ... Se as pessoas estiverem devidamente informadas e mesmo assim optarem pelos bancos privados, é uma escolha delas e ninguém se deve meter. Cada um sabe o melhor para si e para os seus filhos.

Para terminar deixo aqui a ligação para Tens um mano na tua barriga?, um dos melhores textos que alguma vez li que abordam este assunto.
E ainda o excerto de um comentário que alguém fez a esse mesmo texto:
Tenho pena, muita pena que as empresas de criopreservação consigam vender verdades do 1%. Não falo de cor, sou profissional na área da ciência. Tenho uma filha de quase 10 meses. Doei as células estaminais ao banco público. Porque é a melhor opção e destino a dar a algo tão precioso. Sim, posso ter o infortúnio de a minha filha precisar dos 1% que as dela lhe poderiam servir. Mas se o infortúnio me bater à porta na forma dos 99%, irei agradecer do fundo do coração as células que outros doaram.

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