terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Felicidade

Ora aqui está algo que toda a gente procura: a felicidade! Uns com mais sucesso do que outros, mas a verdade é que praticamente toda a nossa existência se baseia em atos e decisões que tomamos com o intuito de sermos mais felizes. Senão vejamos. Porque razão procuramos empregos estáveis e/ou que nos proporcionem boas condições? Porque razão nos apaixonamos? Porque é que desejamos ter filhos? Porque é que jogamos no euromilhões ou porque é que vibramos com um jogo de futebol? Todos estes momentos da nossa vida (e todos os outros) acontecem com fins diferentes, mas no fundo vivemos todas estas coisas porque nos fazem, ou acreditamos que nos fazem, felizes.

Mas e então qual é o caminho para a felicidade? Há alguma fórmula secreta? Porque é que algumas pessoas parecem mais afortunadas e mais felizes enquanto outros parecem ter sido apadrinhados pelo azar? Eu não sei qual é o segredo e sinceramente acho que não há nenhum segredo. Cada um de nós sabe aquilo que nos faz feliz, mas às vezes estamos demasiado distraídos ou demasiado atentos a outras coisas, que nem nos apercebemos que já não precisamos de procurar mais. No entanto, penso que de um modo geral toda a gente pode encontrar a felicidade seguindo uns princípios básicos.

Vou dar o meu exemplo e aquilo que penso. Considero-me uma pessoa minimamente inteligente com um raciocínio lógico bem encadeado. Provavelmente capaz de ter (ou ter tido) sucesso em áreas muito diferentes. Digo-o não só porque realmente acho que sim, mas também porque já várias pessoas mo disseram. Não estou a dizer isto para me vangloriar ou coisa parecida, mas para explicar o que vou dizer de seguida. Apesar das potencialidades que podem existir ou ter existido em mim, acabei o curso superior com um média "assim assim" e o mesmo se passou com o mestrado. Trabalhei durante muito tempo numa empresa onde o meu ordenado era inferior (nalguns casos substancialmente) ao de muitos amigos e colegas de faculdade, alguns deles com as mesmas ou menores capacidades do que eu para desempenhar funções semelhantes. Neste momento encontro-me desempregada, após ter mudado de cidade e de ainda não ter conseguido arranjar um novo emprego, quando, se a memória não me falha, nenhum dos meus amigos e conhecidos da faculdade está na mesma situação. Mas então porque é que o meu percurso tem sido algo "atribulado"? É fácil, tem sido o resultado das escolhas que tenho feito. E essas escolhas, na sua maioria, têm sido feitas com base naquilo que me faz feliz. A primeira delas, sem contar obviamente com a escolha do curso superior, aconteceu na altura de fazer o estágio curricular. Tive a oportunidade de ir para uma empresa que oferecia um estágio bem remunerado (bem - para estágio) para o qual eu fui a primeira escolha, mas acabei por ir para outro, não remunerado e que era numa área totalmente diferente, uma área da qual sempre gostei muito. Por ter feito esse estágio no final acabei por decidir fazer o mestrado para dar continuidade ao trabalho (estamos aqui a falar, claro, de mestrados pré-bolonha). Hoje em dia acredito mesmo que o mestrado foi a maior perda de tempo da minha vida. Só quando o terminei é que comecei a procurar empregro, o meu primeiro emprego. Na altura enviei currículos para várias empresas, mas apenas uma me respondeu com prontidão. Fui à entrevista e apesar de não ter ficado muito impressionada com as instalações e muito menos com o ordenado, adorei o tipo de trabalho que lá era feito pois era numa área que me tinha agradado durante a licenciatura. Fui escolhida para o lugar e como não recebi nenhum contacto de mais nenhuma empresa, acabei por aceitar. Fiquei lá quase 6 anos e nesse tempo claro que muita coisa mudou: a empresa mudou de sítio tendo as condições melhorado substancialmente e fui sendo progressivamente aumentada (mas sem nunca ter chegado aos valores que seriam "justos"). Já se sabe que nenhum emprego é perfeito (mesmo que ao fim do mês o ordenado tenha vários algarismos). Todos têm os seus defeitos e as suas virtudes. E eu lá devo ter visto algumas virtudes que me foram mantendo.

Voltando atrás no tempo, se eu tivesse ido para o tal estágio remunerado a minha vida profissional, muito provavelmente, teria sido diferente. O mais certo era nunca ter feito o mestrado e ter procurado emprego logo no fim da licenciatura. Na altura a empresa para onde fui trabalhar ainda não tinha sido formada, portanto teria ido "forçosamente" para outro sítio. E isso teria sido melhor? Ou teria sido pior? Nem uma coisa nem outra. Teria sido diferente. Acredito que as condições salariais teriam sido melhores ao longo dos anos e que teria aprendido mais. Mas provavelmente também teria encontrado algumas desvantagens. A empresa onde trabalhei era uma empresa pequenina. O ambiente era muito familiar e por isso o local de trabalho, durante muito tempo, foi um local descontraído, sem o stress constante e as horas extraordinárias habituais da minha profissão. Isso por si só, era o melhor.

Mas onde é que eu quero chegar com isto? Na verdade não sei bem, queria apenas demonstrar com o meu exemplo que são as nossas escolhas que constroem o nosso caminho e junto com ele, a nossa felicidade.

Há ainda outra coisa em que pensar: nas diferentes formas que temos de ser felizes. Durante a sua vida algumas pessoas dão mais importância à sua vida profissional, à sua liberdade e aos seus "desejos" materiais. As outras, colocam as pessoas no topo da sua lista de prioridades. E acredito que estas últimas são as que conseguem ser mais felizes. Há alguém que acredite mesmo que quando chegar a hora da sua morte que vai perder um segundo que seja a lembrar-se dos empregos que teve, dos sucessos profissionais que alcançou, de como foi um aluno brilhante, de todos os sítios que visitou, de todos os carros que comprou, de todas as casas em que viveu ou da sua extensa conta bancária? Para mim, aquilo em que toda a gente pensa nos momentos finais, é tão simplesmente nas pessoas. Nas pessoas que foram importantes na sua vida. Nas pessoas que o ajudaram a viver feliz. No meu caso, eu sei em quem vou pensar: vou-me lembar dos meus pais e da minha irmã. E como o tempo poderá ser curto, vou lembrar-me da minha família e dos meus amigos de um modo geral. Mas acima de tudo, irei lembrar-me do meu marido, dos meus filhos e dos meus netos (se já os houver). Sei, com toda a certeza, que na hora da minha morte iria lamentar toda a minha vida se a tivesse dedicado ao trabalho e se tivesse posto sempre as pessoas à margem. E sobretudo se nunca tivesse tido filhos. Chegaria à cruel conclusão que na realidade não tinha vivido, apenas existido. Por isso é com um sorriso nos lábios que digo que, apesar de profissionalmente as coisas neste momento não estarem a correr muito bem, vivo sobretudo para as pessoas de quem gosto e que amo. Todos os outros sonhos que um dia já tive são agora secundários. Vivo, procurando novas oportunidades, novos desafios e sempre com as pessoas perto de mim. E entretanto, enquanto isso não acontece, vivo e sou feliz.
"Fui para os bosques viver de livre vontade,
Para sugar todo o tutano da vida...
Para aniquilar tudo o que não era vida,
E para, quando morrer, não descobrir que não vivi!"
Henry David Thoreau

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