quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Vestir a camisola!?

Um dia disseram-me assim: "de vez em quando também é preciso vestir a camisola da empresa". E eu respondi: "e quando é que a empresa veste a camisola por mim?".

São muitas as pessoas que se queixam das suas condições de trabalho ou manifestam o seu desagrado em relação às mesmas, principalmente quando falamos em horas extraordinárias (normalmente não pagas) ou "imposição" em trabalhar fora de horas. Hoje em dia esta situação tornou-se recorrente e, pior que isso, normal. Normal não só para os empregadores, mas também para os funcionários. E para mim, pior que um patrão assumir que um funcionário seu fica a trabalhar até mais tarde o tempo que for preciso (sem ser recompensando por isso), é um funcionário fazê-lo por sugestão ou iniciativa própria.

No meu grupo de amigos e conhecidos tenho vários exemplos destes, pessoas que "não se importam", aqui e ali (mesmo que o "aqui e ali" se tornem algo frequentes) em trabalhar até mais tarde ou em feriados ou fins-de-semana. Um dos comentários que já me fizeram foi o que já referi: "de vez em quando também é preciso vestir a camisola da empresa". Outro, que acho extraordinariamente delirante, é: "lá na empresa é fácil de ver quem trabalha e quem não trabalha; quem sai à hora não trabalha; quem fica até mais tarde 1 ou 2 horas é quem trabalha". Este último comentário é, na minha opinião, extremamente perigoso. Perigoso no sentido em que se por vezes já não há um verdadeiro respeito pelos horários e pela vida pessoal dos funcionários por parte dos seus patrões, se houver funcionários que têm este tipo de pensamento então o caldo está completamente entornado.

No meu grupo de amigos e conhecidos a minha maneira de ver esta questão é rara. Devo ser das poucas (senão mesmo a única) a ter uma posição contrária à da maioria. Neste momento estou desempregada, motivado por questões pessoais que me fizeram mudar de cidade, mas no meu anterior emprego, no qual permaneci perto de 6 anos, a minha posição esteve sempre bem clara e não me lembro de nenhuma vez ter de ter dito "não, eu não faço horas extra e não, não trabalho mais do que aquilo para que sou paga nem venho trabalhar em feriados e fins-de-semana". Mas se nunca precisei de o afirmar tão claramente, como é que a minha posição estava tão afincadamente assente? Muito simplesmente com a minha atitude desde o meu primeiro dia de trabalho. Houve no outro dia uma pessoa, numa conversa entre amigos de certo modo relacionada com este assunto, que disse "tens de educá-los desde pequeninos", e vendo bem foi isso mesmo que eu fiz. Não vou mentir, não vou dizer que foi fácil manter esta postura durante 6 anos livre de comentários (mesmo que ocultos), olhares ou pensamentos recriminatórios por parte de outras pessoas da empresa, mesmo funcionários tão funcionários quanto eu. Mas nada disso me demoveu. Sou apologista de que tem de haver equilíbrio e a minha vida dificilmente estaria equilibrada se a parte pessoal dela ficasse completamente posta de parte.

A minha atitude no emprego sempre foi a de cumprir diariamente as 8 horas para que era paga. Para isso, via a que horas chegava, via quanto tempo demorava a almoçar (já que tinha direiro a 1 hora e muitas vezes demorávamos bem menos que isso) e após as continhas determinava a hora de saída. Sempre com a preocupação de cumprir as 8 horas, nem menos, mas também não mais (se os patrões são rígidos para o "menos" - e bem! - eu sou rígida para o "mais").

Se nunca trabalhei num dia mais do que 8 horas? Sim, claro que sim, claro que isso aconteceu. A maioria das vezes foi por decisão minha, por estar a terminar alguma coisa e preferir ficar, por exemplo, mais 20 minutos do que no dia seguinte ser-me mais complicado recomeçar a tarefa que tinha deixado inacabada no dia anterior. Outras vezes foi por pedido e dessas vezes notava sempre no patrão alguma dificuldade em mo pedir, lá está, por saber exatamente qual era a minha posição. E dessas vezes, principalmente por querer deixar bem claro que o meu ponto de vista se mantinha, aceitava, mas com "cara de poucos amigos", mostrando sem problemas que não me agradava. Nunca trabalhei num feriado nem num fim-de-semama e se não me engano nunca estive mais de 1 hora a mais a trabalhar. E em 6 anos posso dizer que isso foi tão raro que provavelmente uma mão, vá, duas mãos chegam para contar o número de vezes.

Como já referi não foi fácil conseguir e manter isso, e o motivo principal era a atitude dos restantes colegas de trabalho. A empresa onde trabalhava é uma empresa pequena com menos de 10 colaboradores (entre funcionários e patrões). Como tal, trabalhávamos (quase) todos no mesmo espaço e por isso era fácil de ver os horários que cada um praticava. Durante muito tempo saíamos todos juntos para almoçar e a partir de certa altura isso começou a revelar-se um problema... Quando o volume de trabalho era mais intenso, notava-se claramente que os patrões apressavam o almoço para mais depressa regressarmos ao trabalho (não digo que o fizessem com o intuito de voltarmos todos rapidamente ao trabalho). Chegámos, por várias vezes, a demorar cerca de 30 minutos entre sair do escritório, andar cerca de 5 minutos até ao local de almoço, almoçar e regressar. E para mim isto era um grande problema, uma vez que para seguir os meus princípios de trabalhar as 8 horas tinha apenas duas soluções: regressar logo ao trabalho ou fazer tempo até voltar a ir trabalhar. No primeiro caso isto podia ser mau, uma vez que o ajuste da hora de saída podia resultar em eu sair "antes do tempo". Por exemplo, se tivesse chegado ao emprego às 9:15 a hora expectável de saída seria às 18:15 (8 horas de trabalho + 1 hora de almoço). No entanto, após o ajuste, sairia às 17:45 quando o horário normal de trabalho na empresa era das 9:00 às 18:00. Aos olhos das restantes pessoas, e principalmente dos patrões, o mais certo era que qualquer saída antes das 18:00 significasse sair antes do tempo, apesar de na verdade as 8 horas contratadas estarem a ser cumpridas. Se por outro lado ficasse a fazer tempo até regressar ao escritório, isso podia dar azo a comentários menos felizes como nos foi feito uma vez, após um dos tais almoços relâmpago, em que eu e outros dois colegas parámos à porta do prédio enquanto os restantes entraram: "então, vocês não sobem?".

Mas a questão do almoço até a considero secundária. Nas alturas em que já estava mais saturada da situação resolvia a questão indo almoçar sozinha. O que mais me "dificultou" foi ter colegas a trabalhar voluntariamente até mais tarde. É a típica "discriminação por comparação". Os outros fazem, porque é que tu não fazes também? Sempre tive noção que as pessoas, leia-se (sobretudo os) patrões, me discriminavam nesse sentido, que não aceitavam bem essa minha posição e maneira de ser, que achavam que eu devia dar mais de mim e contribuir mais. Nunca mo disseram, fosse para me criticar ou simplesmente para mo dizer, mas sempre soube. E tive a confirmação por parte de um deles, com o qual tive uma conversa interessante na altura em que me vim embora da empresa. Disse-me que inicialmente nunca esteve de acordo com o facto de eu ser tão rígida com o horário de trabalho, mas que nos últimos tempos tinha deixado de julgar isso como errado ou certo e que começava a acreditar que eu é que estava certa. Basicamente, que o meu trabalho era eficiente e por isso que mais podiam exigir de mim? E aqui está, julgo eu, o grande segredo, se é que há algum segredo nisto...

Sejam 3, 5 ou 8 as horas contratadas, seguindo os meus princípios as horas de trabalho são para trabalhar. Se não consultava o email de vez em quando respondendo ou enviando emails aqui e ali? Sim, claro que sim. Se quando chegava do almoço não via durante uns minutinhos as notícias na internet? Mais uma vez sim. Agora, em todo o tempo que lá estive nunca usei o msn (sim, ainda sou do tempo do msn :)) e devo ter feito login no facebook uma meia dúzia de vezes. O que é que quero dizer com isto? Quero dizer que eu realmente me preocupava em estar a trabalhar e em concluir as minhas tarefas. Nos quase 6 anos só me fizeram elogios ao meu trabalho, nunca me apontaram uma vírgula que fosse (palavras deles, não minhas) e não acho que tenha havido um projeto que fosse que se tenha atrasado por culpa minha. Sendo assim, se eu fazia o que me competia, que mais podiam exigir de mim? Acho que foi por isto que, sabendo da minha posição em relação a trabalho fora de horas, nunca se sentiram confortáveis em me pedir para trabalhar até mais tarde, porque na realidade não tinham nada a me apontar para o justificar.

A acrescentar a isto tenho noção que esta minha atitude me pode vir a prejudicar. Se há alguém com as mesmas competências que eu que está disposto, pelo mesmo valor, a trabalhar mais tempo, porque razão me contratariam a mim e não a essa pessoa? Mas será que devo mudar para que esses casos não surjam? Acho que não. Acho que não e não quero mudar. Porque isto faz parte daquilo que eu sou e porque realmente acho que é preciso haver uma mudança na mentalidade das pessoas. Na empresa onde estive já consegui mudar um bocadinho a mentalidade das pessoas, nem que tenha sido de só uma, e nem que fosse só por isso valeu a pena o esforço de ser a pessoa com a atitude diferente face aos horários de trabalho. Recentemente vi-me confrontada com esta situação numa entrevista de emprego. Após uma entrevista algo atípica (o entrevistador até era simpático, mas não foi a experiência mais interessante pela qual passei - talvez fale nisso numa próxima vez), o entrevistador concluiu dizendo que a empresa tem estado a crescer muito e que isso se deve à dedicação e empenho dos funcionários. Disse que nas alturas de maior trabalho, de mais stress, é o empenho total dos funcionários que permite que tudo funcione. E concluiu dizendo: "estás a perceber o que quero dizer?". E eu pensei "estou a perceber tão bem, que não fosse o facto de a entrevista não ter corrido grande coisa, eu neste momento já estaria completamente de pé atrás em relação a uma possível carreira aqui".

Se eu nunca vestirei a camisola de uma empresa onde trabalhe? Nunca digas nunca, já alguém dizia, mas acho difícil. Para o começar a considerar primeiro teria de sentir que a empresa também vestiria a camisola por mim. Teria de sentir que o meu esforço seria devidamente recompensado, que realmente valorizavam o que faço com mais do que palavras. Se assim não fosse, quem seriam eles para "roubar horas de vida pessoal a troco de nada"?

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Felicidade

Ora aqui está algo que toda a gente procura: a felicidade! Uns com mais sucesso do que outros, mas a verdade é que praticamente toda a nossa existência se baseia em atos e decisões que tomamos com o intuito de sermos mais felizes. Senão vejamos. Porque razão procuramos empregos estáveis e/ou que nos proporcionem boas condições? Porque razão nos apaixonamos? Porque é que desejamos ter filhos? Porque é que jogamos no euromilhões ou porque é que vibramos com um jogo de futebol? Todos estes momentos da nossa vida (e todos os outros) acontecem com fins diferentes, mas no fundo vivemos todas estas coisas porque nos fazem, ou acreditamos que nos fazem, felizes.

Mas e então qual é o caminho para a felicidade? Há alguma fórmula secreta? Porque é que algumas pessoas parecem mais afortunadas e mais felizes enquanto outros parecem ter sido apadrinhados pelo azar? Eu não sei qual é o segredo e sinceramente acho que não há nenhum segredo. Cada um de nós sabe aquilo que nos faz feliz, mas às vezes estamos demasiado distraídos ou demasiado atentos a outras coisas, que nem nos apercebemos que já não precisamos de procurar mais. No entanto, penso que de um modo geral toda a gente pode encontrar a felicidade seguindo uns princípios básicos.

Vou dar o meu exemplo e aquilo que penso. Considero-me uma pessoa minimamente inteligente com um raciocínio lógico bem encadeado. Provavelmente capaz de ter (ou ter tido) sucesso em áreas muito diferentes. Digo-o não só porque realmente acho que sim, mas também porque já várias pessoas mo disseram. Não estou a dizer isto para me vangloriar ou coisa parecida, mas para explicar o que vou dizer de seguida. Apesar das potencialidades que podem existir ou ter existido em mim, acabei o curso superior com um média "assim assim" e o mesmo se passou com o mestrado. Trabalhei durante muito tempo numa empresa onde o meu ordenado era inferior (nalguns casos substancialmente) ao de muitos amigos e colegas de faculdade, alguns deles com as mesmas ou menores capacidades do que eu para desempenhar funções semelhantes. Neste momento encontro-me desempregada, após ter mudado de cidade e de ainda não ter conseguido arranjar um novo emprego, quando, se a memória não me falha, nenhum dos meus amigos e conhecidos da faculdade está na mesma situação. Mas então porque é que o meu percurso tem sido algo "atribulado"? É fácil, tem sido o resultado das escolhas que tenho feito. E essas escolhas, na sua maioria, têm sido feitas com base naquilo que me faz feliz. A primeira delas, sem contar obviamente com a escolha do curso superior, aconteceu na altura de fazer o estágio curricular. Tive a oportunidade de ir para uma empresa que oferecia um estágio bem remunerado (bem - para estágio) para o qual eu fui a primeira escolha, mas acabei por ir para outro, não remunerado e que era numa área totalmente diferente, uma área da qual sempre gostei muito. Por ter feito esse estágio no final acabei por decidir fazer o mestrado para dar continuidade ao trabalho (estamos aqui a falar, claro, de mestrados pré-bolonha). Hoje em dia acredito mesmo que o mestrado foi a maior perda de tempo da minha vida. Só quando o terminei é que comecei a procurar empregro, o meu primeiro emprego. Na altura enviei currículos para várias empresas, mas apenas uma me respondeu com prontidão. Fui à entrevista e apesar de não ter ficado muito impressionada com as instalações e muito menos com o ordenado, adorei o tipo de trabalho que lá era feito pois era numa área que me tinha agradado durante a licenciatura. Fui escolhida para o lugar e como não recebi nenhum contacto de mais nenhuma empresa, acabei por aceitar. Fiquei lá quase 6 anos e nesse tempo claro que muita coisa mudou: a empresa mudou de sítio tendo as condições melhorado substancialmente e fui sendo progressivamente aumentada (mas sem nunca ter chegado aos valores que seriam "justos"). Já se sabe que nenhum emprego é perfeito (mesmo que ao fim do mês o ordenado tenha vários algarismos). Todos têm os seus defeitos e as suas virtudes. E eu lá devo ter visto algumas virtudes que me foram mantendo.

Voltando atrás no tempo, se eu tivesse ido para o tal estágio remunerado a minha vida profissional, muito provavelmente, teria sido diferente. O mais certo era nunca ter feito o mestrado e ter procurado emprego logo no fim da licenciatura. Na altura a empresa para onde fui trabalhar ainda não tinha sido formada, portanto teria ido "forçosamente" para outro sítio. E isso teria sido melhor? Ou teria sido pior? Nem uma coisa nem outra. Teria sido diferente. Acredito que as condições salariais teriam sido melhores ao longo dos anos e que teria aprendido mais. Mas provavelmente também teria encontrado algumas desvantagens. A empresa onde trabalhei era uma empresa pequenina. O ambiente era muito familiar e por isso o local de trabalho, durante muito tempo, foi um local descontraído, sem o stress constante e as horas extraordinárias habituais da minha profissão. Isso por si só, era o melhor.

Mas onde é que eu quero chegar com isto? Na verdade não sei bem, queria apenas demonstrar com o meu exemplo que são as nossas escolhas que constroem o nosso caminho e junto com ele, a nossa felicidade.

Há ainda outra coisa em que pensar: nas diferentes formas que temos de ser felizes. Durante a sua vida algumas pessoas dão mais importância à sua vida profissional, à sua liberdade e aos seus "desejos" materiais. As outras, colocam as pessoas no topo da sua lista de prioridades. E acredito que estas últimas são as que conseguem ser mais felizes. Há alguém que acredite mesmo que quando chegar a hora da sua morte que vai perder um segundo que seja a lembrar-se dos empregos que teve, dos sucessos profissionais que alcançou, de como foi um aluno brilhante, de todos os sítios que visitou, de todos os carros que comprou, de todas as casas em que viveu ou da sua extensa conta bancária? Para mim, aquilo em que toda a gente pensa nos momentos finais, é tão simplesmente nas pessoas. Nas pessoas que foram importantes na sua vida. Nas pessoas que o ajudaram a viver feliz. No meu caso, eu sei em quem vou pensar: vou-me lembar dos meus pais e da minha irmã. E como o tempo poderá ser curto, vou lembrar-me da minha família e dos meus amigos de um modo geral. Mas acima de tudo, irei lembrar-me do meu marido, dos meus filhos e dos meus netos (se já os houver). Sei, com toda a certeza, que na hora da minha morte iria lamentar toda a minha vida se a tivesse dedicado ao trabalho e se tivesse posto sempre as pessoas à margem. E sobretudo se nunca tivesse tido filhos. Chegaria à cruel conclusão que na realidade não tinha vivido, apenas existido. Por isso é com um sorriso nos lábios que digo que, apesar de profissionalmente as coisas neste momento não estarem a correr muito bem, vivo sobretudo para as pessoas de quem gosto e que amo. Todos os outros sonhos que um dia já tive são agora secundários. Vivo, procurando novas oportunidades, novos desafios e sempre com as pessoas perto de mim. E entretanto, enquanto isso não acontece, vivo e sou feliz.
"Fui para os bosques viver de livre vontade,
Para sugar todo o tutano da vida...
Para aniquilar tudo o que não era vida,
E para, quando morrer, não descobrir que não vivi!"
Henry David Thoreau

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Acordo ortográfico

Estou farta! Não do novo (velho) acordo ortográfico, mas da justificação mais amplamente divulgada dada por quem é contra.
"É um facto, daqueles que se constatam e não dos que se vestem."
"O cágado está de fato na praia." (está de facto ou está de fato?)
Eu até sou a favor do novo acordo. A mim não me choca nada. Mas vamos por partes e voltando ao facto, gostava mesmo que quem é contra não o usasse mais como argumento. Coitado do facto. Deve estar farto de ser usado como arma de arremesso numa discussão da qual ele nem sequer faz parte. Sim, não faz parte! Porque se quem é contra estivesse devidamente informado e soubesse verdadeiramente contra o que é contra, então saberia que em Portugal o facto vai continuar a ser facto e portanto esse seu argumento é no mínimo ridículo.

Voltando à minha opinião sobre este "novo" acordo ortográfico. Antes de mais ele já não é assim tão novo. Já data de 1990 apesar de só em 2009 ter entrado em vigor. Do meu ponto de vista não vejo qualquer problema nisto. É certo que há uma outra coisa que me fazem confusão e às quais me poderei demorar mais a habituar. Pára do verbo parar vai passar a escrever-se para. Pêlo vai passar a ser pelo. E ainda há outras. Mas para mim, só pelo facto de que me possa fazer alguma confusão, não é razão suficiente para rejeitar. Acho que tem muitas coisas positivas e a principal para mim é a omissão dos caracteres que não se leem. Por exemplo, objectivo passa a ser objetivo e óptimo passa a ser ótimo. Para quê complicar? Se a letra não se pronuncia para quê escrevê-la? Sempre pensei assim, ainda antes deste acordo ter surgido, por isso gostei.

Mas gostos à parte, para mim este acordo tal como outras reformas que já existiram, são uma forma de manter a língua "viva", em evolução, a acompanhar os tempos. Se tal nunca tivesse havido, hoje em dia nem o português nem tantas outras línguas existiam, e ainda usaríamos o latim. Haveria algum problema nisso? Claro que não. O latim é uma língua como outra qualquer, mas a ordem natural das coisas é haver evolução. Se houver algo que não evolui, penso que mais cedo ou mais tarde acaba por cair no esquecimento. Ou então acontece-lhe o mesmo que aconteceu ao latim: não desapareceu, mas hoje em dia é considerada uma língua morta.

Esta é apenas mais uma reforma da nossa língua. Sim, porque ela vai continuar a ser a nossa língua. Isso ninguém nos tira. Apenas vai haver algumas palavras que vão passar a ser escritas de outra forma. Que diriam se hoje em dia caravela fosse caravella ou psicologia fosse psychologia. É que até ao início do século XX era assim que se escrevia. Calculo que na altura também tenha havido quem se insurgisse contra estas e tantas outras mais alterações introduzidas na língua portuguesa. Mas se estas alterações não tivessem sido feitas, se calhar era assim que ainda hoje escreveríamos.

Para terminar, não tenho nada contra quem está contra este acordo ortográfico. Apenas gostaria que passassem a usar argumentos válidos (e deixassem o facto sossegado de uma vez por todas) e que vissem melhor quais são as verdadeiras alterações. Quanto a todos nós, a favor ou contra, temos até 2015, altura em que termina o período de transição, para nos habituarmos. Aos poucos e pouco aprenderemos estas alterações e não será assim tão complicado. A maioria delas até são intuitivas.

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sábado, 19 de janeiro de 2013

Vida

A vida é uma sucessão de bons e maus momentos preenchida por recordações e sentimentos. Um sonho que vivemos cada dia como quem adiciona uma estrela ao universo. E do mesmo modo que cada estrela é semelhante e diferente das outras e faz falta no universo, também cada instante que vivas é único. Por mais repetitivo ou estranho te possa parecer, é uma peça fundamental sem a qual o puzzle da tua vida não faria sentido.
[Escrevi este texto pela primeira vez em 2000 ou em 2001.]

Esta é a minha definição do que é a vida. Passamos toda a nossa existência a tentar encontrar um sentido para todas as peças que constituem o nosso puzzle, a tentar encaixá-las da forma correta. Uns têm mais facilidade do que outros, conseguem ter uma visão mais global e em cada momento encontrar e encaixar com destreza a peça certa. Mas não é só por que alguém conseguiu construir fácil e rapidamente o seu puzzle, que este se torna mais valioso que os dos outros. No final o que importa é olharmos para o que temos e para a forma como o conseguimos, e orgulharmo-nos disso. Não importa se o caminho foi mais ou menos simples, mais ou menos rápido, mais ou menos tortuoso. Desde que se o percorra acreditando, com vontade e um sorriso nos lábios, então, quando o puzzle estiver completo teremos a certeza que fomos felizes e que a vida que vivemos teve um sentido.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O tabaco e as crianças

Ora aqui estou eu a tocar num assunto quente, principalmente se os leitores forem fumadores.
Eu, como não fumadora desde sempre e para sempre, sou manifestamente anti-tabaco, mas sem nunca deixar de respeitar a opção dos fumadores de fumarem. Cada um de nós tem liberdade para fazer o que bem entende com a sua vida, e no meu entender essa liberdade só termina quando interfere com a liberdade de outras pessoas.
Mas disso falarei noutro dia. Hoje quero antes chamar a atenção para os perigos na exposição de crianças ao fumo do tabaco.

Basta andar na rua para diariamente vermos atentados à saúde dos mais pequeninos. Pais, mães, avós, avôs, tios, tias, primos, amigos ou meros conhecidos ou desconhecidos, convivem de perto com as crianças enquanto fumam os seus cigarros.
Dentro do carro, na esplanada do café, à porta de um prédio, a passear na rua. Quase todas estas pessoas, enquanto estão a fumar, fazem o gesto típico de pôr mais afastada a mão em que têm o cigarro, para trás, quase que escondida. Seria suficiente se não houvesse vento, correntes de ar, se tudo e todos permanecessem imóveis. Mas tal não acontece. E de cada vez que um adulto fuma junto a uma criança, ela vai estar, sem qualquer hipótese de escolha, a fumar passivamente.

Depois há outra questão. Muitos dos compostos químicos presentes no fumo do tabaco aderem às roupas, tapetes, mobílias, ..., ou seja, permanecem no espaço onde o cigarro foi fumado. Daí não ser só importante que as pessoas não fumem em frente às crianças, mas que também não o façam nos locais que estas frequentam.

Cabe aos pais criar condições para que os seus filhos cresçam num ambiente saudável, e no que respeita ao tabaco não significa apenas não fumarem em casa e à frente dos filhos (se se tratarem de pais fumadores), mas significa também impedirem que outros fumem com os seus filhos por perto e não frequentarem com os filhos locais onde se fuma. E muitas vezes estas medidas significam ser "desagradável" para com amigos ou familiares, mas antes ser "desagradável" e correr o risco de ser mal compreendido, do que conscientemente expôr os filhos a perigos que por vezes conduzem a problemas de saúde irreversíveis.

E se ainda há quem não esteja convencido e pense que se se fumar só de vez em quando um cigarrito em frente aos miúdos não tem mal nenhum, pense nas consequências para a saúde que lhes pode estar a causar: (apenas alguns exemplos) aumento da probabilidade de pneumonia, bronquite, tosse, dificuldade respiratória, agravamento de asma e desenvolvimento de doença cardíaca.
Para além de tudo isto, o fumo do cigarro contém imensos produtos cancerígenos, amoníaco, cianeto, monóxido de carbono, ... e os filhos de pais fumadores têm quatro vezes mais hipóteses de ser alérgicos e uma grande probabilidade de virem um dia a tornar-se também eles fumadores.

Termino como comecei: todos os fumadores têm direito a fazer a escolha de fumar, mas nenhum tem o direito (ou pelo menos nenhum devia ter) de conscientemente "obrigar" as outras pessoas a passivamente fumarem o fumo do seu tabaco, mesmo que essas outras pessoas sejam os seus filhos. E sobretudo se o forem!

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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O início

Porque às vezes há coisas que mexem comigo. Mas também porque às vezes me apetece, apenas porque sim. Criei assim, aqui, um espaço onde tomo a liberdade de me expressar sobre tudo e mais alguma coisa. Sem nenhum tema preferido e sem temas tabus. Um espaço onde partilho as minhas opiniões e reflexões, as minhas certezas e as minhas dúvidas (existenciais), procurando sempre respeitar tudo e todos e desse modo esperar ser igualmente respeitada. Cada um de nós vê o mundo pelos seus olhos. Temos de saber ser capazes de aceitar que a nossa forma de ver, só porque é a nossa, não tem necessariamente de ser a correta, tal como a dos outros não tem necessariamente de ser a errada. Começo assim, hoje, a partilhar a minha forma de ver o mundo, que já se sabe, vale o que vale.